canções, poemas, escritos

canções, poemas, escritos

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

apt.101

sobrou um pó no topo das estantes
ao redor dos copos, dos romances
e álbuns de fotos de viagens distantes

eu não quis assoprar em nada
quis esperar o vento passar
um pano sem pensar em nada
esperei vivendo estranha
essa espera até me estranhar

não me penteio mais, não olho mais espelhos
desço pela escada, não converso direito
e à noite me deito com medo
de acordar com tudo de outro jeito

o vizinho bate e pede "faltando sal"
eu atendo e respondo "aqui só tem pó"
queria que ele me amasse, assim, de repente
que um maremoto entrasse pela porta da frente

que alguém soubesse

(refrão)

aqui mal tem sol, o pó virou teia
ando de mãos pro alto e pés presos na areia
ando de viúva negra com medo do carteiro
e nome abandonado na caixa do correio

o vizinho bate e pede "faltando pão"
eu atendo e respondo "aqui só tem pó"
queria que ele entrasse, simplesmente
como um maremoto, assim, pela porta da gente

se alguém soubesse

eu não quis assoprar em nada
quis esperar o vento passar
um plano sem pensar em nada
esperei vivendo estranha

essa espera até me estranhar

Nenhum comentário:

Postar um comentário