sobrou
um pó no topo das estantes
ao
redor dos copos, dos romances
e
álbuns de fotos de viagens distantes
eu não quis
assoprar em nada
quis esperar o
vento passar
um pano sem
pensar em nada
esperei vivendo
estranha
essa espera até
me estranhar
não
me penteio mais, não olho mais espelhos
desço
pela escada, não converso direito
e à
noite me deito com medo
de
acordar com tudo de outro jeito
o
vizinho bate e pede "faltando sal"
eu
atendo e respondo "aqui só tem pó"
queria
que ele me amasse, assim, de repente
que
um maremoto entrasse pela porta da frente
que
alguém soubesse
(refrão)
aqui
mal tem sol, o pó virou teia
ando
de mãos pro alto e pés presos na areia
ando
de viúva negra com medo do carteiro
e nome
abandonado na caixa do correio
o
vizinho bate e pede "faltando pão"
eu
atendo e respondo "aqui só tem pó"
queria
que ele entrasse, simplesmente
como
um maremoto, assim, pela porta da gente
se
alguém soubesse
eu não quis
assoprar em nada
quis esperar o
vento passar
um plano sem
pensar em nada
esperei vivendo
estranha
essa espera até
me estranhar
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