canções, poemas, escritos

canções, poemas, escritos

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

levitação

bem que você podia
por um dia deixar
de tocar no chão
era tudo que eu queria
esquecer de ligar
a televisão

adeus
num passe de mágica levitar
fazer sombra em mim
adeus
a mão tão estática esticar
mais alto que o sétimo céu
onde mora a loucura
mais alto que o sétimo céu
onde mora a loucura

bem que você podia
crer na nossa riqueza
sem um tostão
ela é como a luz do dia
minha, tua leveza
a cada estação

adeus
num lance de mágica se pousar
algodão sobre mim
adeus
o pé tão estático esticar
mais fundo que o último lençol
onde se esconde a chuva
mais fundo que o último lençol
onde se esconde a chuva

bem enquanto você dormia
tentei imaginar 
quais seus medos são
pensei em anatomia
nas passagens secretas 
do teu coração

pensei que você fugia
de tão longe teu corpo
em gravitação
vi que em tanta teoria
jamais te perderia
aqui no chão

adeus
num truque de mágica
visitar
uma sonda em mim
adeus
o olhar tão estático esticar
onde o vento entre e bate
e leva nas alturas
onde o vento entre e bate
e leva à loucura


se for assim te amar

se for o véu azul do mar
as ondas de marfim
se for assim te amar

se for o céu azul sem par
o sol ardendo em mim
se for assim te amar

e ver o sol se por
e ver o chão
colher a prata do luar
me diga por favor
a direção
se for a onda te levar

se for um dia me deixar
um dia ser o fim
se for assim te amar

se for um templo, um lugar
outono no jardim
se for assim te amar

e ver o sol se por
e ver o chão
colher a prata do luar
me diga por favor
a direção
se for a onda te levar



7 rosas

ei, quanto tempo sem te ver
sem falar nem escrever
até perco o jeito
vi tua jangada no mar
vim aqui te esperar
sem saber direito

quis esse sangue me levar
me jogar pra longe
quis esse tempo de voltar

ah que saudade que me dá
e que medo de ficar
logo aqui na areia
vi tua jangada no mar
eu pedi a Iemanjá
pra tar no teu peito

quis esse sonho me levar
me jogar pra longe
quis esse tempo de voltar

e dessa janela pro mar
eu vejo a onda levar
sete rosas brancas
vi tua jangada no mar
só me resta esperar

pelas ondas brandas

ofício


canção de quem segue as pegadas do sol
canção de quem anda e espalha afrescos de pó
canção de quem manda a carta para além-mar
canção de quem abra a carta que vai chegar
vem, vem aí o tempo de quem vai tocar

canção de quem abre asas para tentar
canção de que corta a cana até curvar
canção de quem perde o sangue e ganha a paz
canção de quem bebe a insônia que a seca traz
vem, vem aí o tempo de quem vai tocar

canção de quem não sabe que não vai voltar
canção de quem pega um barco e descobre o mar
canção de quem calado só pode escutar
canção de quem vende a alma para cantar

canção, já vou

dragão de papel

eu venho aqui com essa prece no peito
um tanto sem jeito
sei que ela serve pra mim e ninguém mais
ouço falar de um deus que nos livra do mal
o que será de um deus?
se eu tenho eu e você pra mandar chover
7 dias de paz em temporais
e num olhar o riso, num brilho o altar
e nasce esse lugar

será esse nosso amor uma catedral?
será esse nosso amor uma catedral?
que não parece parar de crescer no céu
dragão vira no ar, dragão de papel


eu sento aqui na beira do leito
sinto no teu peito
um rio que chega no fim, o fim do cais
em mim explodem festins de 1000 carnavais
uma melodia fugaz
o tempo vem como um bicho voraz
e nós no mundo imenso
se vai lembrar de mim ou talvez mais
as cinzas da folia pra sempre em memoriais
eu vou lembrar de nós

será esse nosso amor uma catedral?
será esse nosso amor uma catedral?
que não parece parar de crescer no céu

dragão vira no ar, dragão de papel

canção de embarque

dizer adeus à luz que baixou
aos dias por estradas perdidas
ao deus que não acreditou
à dor

corte seco, partida
aos sonhos tão plenos quebrados ao meio
vitrines, check-ins, metais 
e eu leio:

estranho em trânsito que não tem fim 
rosto 3x4 estranho a si-mesmo
estranho esse visto não ter fim
olhar 3x4 estranho assim mesmo

         estão chamando
         estão chamando

dizer adeus sem saber o que
dizer adeus sem saber pra quê
dizer adeus sem mais o que dizer
à dor

corte seco, partida
momentos que amo, anos que odeio
amor que você por um tempo amou
amor perecido que mim ficou
e eu leio:    

(refrão)


estou chamando
estou chamando

bandeirante



além da linha do horizonte
onde uma estrela apareceu
em cores de um outro hemisfério
a minha terra estremeceu
vem me tocar com seu mistério
sempre o segredo será seu
profundo seu olhar sem fundo
que nunca se jogou no meu

viver, amar, só

chegou a mim, oh bandeirante
conquistando mata, prados e alma
lhe ofereci fonte de água
lhe ofereci fonte que acalma
você falou na sua língua
cantou pra mim de igual para igual
e no calor de quem adivinha
quando vai vir o temporal

viver, amar, só

lembrar é tudo que não quero
lembrar é tudo que preciso
limpar da alma o mistério
limpar a terra que cultivo
girar e dar voltas e voltas
até perder toda a razão
até arrancar esses versos
na minha língua uma canção

viver, amar, cantar, só.